A CONSULTA HOMEOPÁTICA

Noto frequentemente que as pessoas ficam confusas com as perguntas que saem fora da sua experiência habitual com a medicina convencional. O homeopata pergunta qual a comida que mais gosta, qual a posição em que habitualmente dorme, a época do ano preferida, quanto transpira e em que situações. Faz perguntas sobre os sonhos, sentimentos, quais as percepções e sensações em diversas situações da sua vida. Por vezes os pacientes questionam se estou a fazer uma consulta de homeopatia ou de psicologia.

 


O objectivo é entender a pessoa no seu todo e simultâneamente o que a torna individual na sua doença. Quais as sensações profundas, sentimentos, percepções e fantasias que tornam cada um de nós diferente dos outros? Distinguimo-nos dos que estão à nossa volta não apenas pela nossa maneira de vestir ou de falar mas também na forma como pensamos, sentimos e reagimos, como vimos o mundo circundante, na nossa natureza e temperamento, na comida que gostamos e no tipo de doenças que sofremos. Por exemplo se há uma epidemia como a gripe A ou outra, porque serão apenas  algumas pessoas atingidas e outras não e por que acontecerá assim? Cada um de nós tem a sua própria reacção individual e como tal os sintomas e o ritmo de infecção diferem de caso para caso. As pessoas reagem de modo diferente às mesma situação e a mesma pessoa também não reage sempre de igual modo à mesma situação. Surpreendentemente, até mesmo os gémeos idênticos podem ter naturezas muito diferentes.

Existem imensas diferenças entre as pessoas. O papel do homeopata é identificar essas diferenças como características que individualizam cada um dos pacientes. O ser humano pode ser considerado a combinação de 2 partes a material e a espiritual. As duas não se podem separar mas por uma questão de conveniência vamos entendê-las separadamente. A parte material consiste no corpo com os seus órgãos, glândulas, tecidos, fluidos e cérebro. O espírito é a parte não material que dá vida ao corpo, o governa, controla as suas funções e permeia todas as suas células. Sem o espírito o corpo está morto. Na homeopatia este espírito chama-se “força vital” e é responsável pelo nosso padrão de energia, pela nossa natureza, o que sentimos e percepcionamos numa situação particular, que sensação temos no corpo. Em linguagem comum chamamos-lhe alma, na filosofia hindu atma/prana e Chi na filosofia taoista da China. Vejamos um exemplo: supomos que alguém belisca 5 pessoas. Todas elas dirão que sentiram um beliscão mas quando se lhes pede para descreverem a sensação associada podemos obter respostas muito diferentes: “magoou-me tanto que deixou nódoa-negra”, “foi como um murro no estômago”, “quase que não senti nada” “parecia uma faca a espetar-se no corpo”, “por que fez isso?” “lembrou-me o beliscão que o meu irmão me costumava dar, ainda hoje me lembro daqueles beliscões, a mesma sensação que costuma acompanhar todas as minhas perturbações emocionais”. O estímulo é o mesmo mas reacções e modos de perceber a sensação muito diferentes, todos válidos e revelando cada um a sua própria sensação e o remédio necessário. O homeopata vê a doença como uma perturbação da força vital

Esta força vital perturbada gera desequilíbrio ao nível energético que por sua vez provoca perturbações ao nível da mente e do corpo. Quando o ser humano já não consegue mais lidar com estas perturbações aos níveis da mente e do corpo surge a doença. Para a homeopatia a doença não é apenas uma soma de sintomas mas sim uma perturbação no nível energético, mental (incluindo sentimentos, medos, pensamentos, percepções e reacções a tudo isto), ao nível do corpo (incluindo sono, desejos e aversões, apetite, sede, variações de temperatura, e sintomas relacionados com cada um dos sistemas).

A medicina moderna olha a doença física e a homeopatia olha para o fenómeno na sua totalidade, incluindo o corpo, a mente e o nível energético. Quando o homeopata recolhe o historial do paciente, explora todas as áreas da mente e do corpo, incluindo sentimentos, pensamentos, medos, percepções, sensações e as reacções a cada um deles e por fim o modo como cada um lida com tudo isto. Os sentimentos, fantasias e sensações estão sempre lá mas nem sempre sentidos porque estão cobertas pela mente consciente (mente desenvolvida pelo ambiente).

Para explorar tudo isto é necessário explorar áreas onde  esteja expresso completamente. Explora-se melhor nos medos, sonhos, acontecimentos que tiveram impacto na pessoa, interesses e hobbies, infância, fantasias e desejos, imaginações e as queixas que mais o incomodam. O objectivo principal do tratamento homeopático não é tratar a doença apenas mas devolver a harmonia entre corpo e mente. A homeopatia ajuda o paciente a aumentar o seu próprio poder de cura (sistema imunitário) de modo a que o corpo cuide dos seus problemas. Ao nível mental torna-se consciente dos seus pensamentos, medos, sentimentos, percepções, ilusões e da reacção associada a tudo isto. A nível somático (corpo) fica livre da doença, o sono, apetite e sede melhoram. O paciente torna-se ciente da sensação e da reacção a ela associada o que constitui o nível mais profundo onde se encontra a mente e o corpo, o inconsciente, a memória celular. Dar-se conta da sensação, trás consciência de todos os nossos movimentos, impulsos, pensamentos, sentimentos, etc. Para alcançar esta meta mais elevada o homeopata necessita entender cada aspecto (mente, corpo e sensação) do ser humano. O tempo desta viagem ou peregrinação interior varia de paciente para paciente, dependendo do que o paciente está já consciente de si-mesmo (o seu eu mais intimo). Após o homeopata ter “desenhado” um retrato completo de si como individuo, tenta fazê-lo corresponder a um retrato semelhante da matéria médica homeopática. Os medicamentos homeopáticos estão descritos com muito detalhe e são descritos como se fossem uma pessoa. O homeopata regra geral já estudou estes remédios e muitas vezes até os experimentou. É como encontrar a chave de um cadeado. Cada cadeado só pode ser aberto por uma chave em particular, do mesmo modo cada paciente necessita um medicamento cuja descrição nele se "encaixe".